ANTES E DEPOIS: imagens de satélite mostram impacto da estiagem extrema no rio Xingu

  • 30/10/2024
(Foto: Reprodução)
Situação tem provocado escassez de água potável, dificuldades de navegação e impactos na agricultura. Entre as causas do fenômeno estão fatores climáticos e ações humanas. Serviço Geológico do Brasil apontou que o Xingu está com o menor nível já registrado para esta época do ano. Initial plugin text A estiagem que afeta a Região Norte do Brasil tem provocado escassez de água potável, dificuldades de navegação e impactos na agricultura. Imagens de satélite de um trecho do rio Xingu, no Pará, mostram os reflexos da estiagem prolongada na região (veja acima). Segundo o boletim do Serviço Geológico do Brasil (SGB), no dia 15 de outubro de 2024, o rio Xingu chegou a 237 cm, o menor nível já registrado para esta época do ano. Antes disso, a mínima histórica era de 254 cm, referente a 30 de novembro de 2023, de acordo com registros da estação de monitoramento localizada na cidade de Altamira. Em condições normais, o nível do rio deveria estar em 475 cm no mês de outubro. ➡️As imagens de satélite feitas no mês de setembro em dois anos diferentes, 2023 e 2024, retratam isso. Neste intervalo de um ano é possível ver como a diminuição das chuvas alterou a paisagem do rio Xingu. Os registros de satélite são mosaicos. Ou seja, foram utilizadas todas as imagens do mês de setembro de 2023 e de setembro de 2024, capturadas pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), um instituto de pesquisa dedicado ao desenvolvimento sustentável da Amazônia. Situação crítica O trecho do rio Xingu onde ocorreu a captura fica próximo à usina Hidrelétrica de Belo Monte Belo, em Altamira, no sudoeste do Pará - a segunda maior usina hidrelétrica do Brasil, atrás apenas da binacional Itaipu. Em setembro deste ano, a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) declarou situação crítica de escassez hídrica no rio Xingu e seu afluente, o rio Iriri, até o dia 30 de novembro. Seca no rio Xingu, próximo à Usina Hidréletrica de Belo Monte, no Pará. Imazon 🏜️ Por conta da estiagem e a consequente redução da vazão do rio Xingu, a usina de Belo Monte funcionou no início de setembro com apenas 2 das 18 turbinas. A Norte Energia, concessionária da usina, não quis informar se esse protocolo de funcionamento com apenas 2 turbinas está mantido até o momento. Para o pescador José Edmilson, é a primeira vez que ele vê a seca no rio Xingu, em Altamira, chegar nesse nível. Seca no rio Xingu em Altamira, no Pará, afeta a pesca de moradores locais. Se for viver só da pesca, passa fome aqui. Minha família passa fome, porque não tem jeito da gente viver nessa seca. E antes da barragem não tinha isso. Está tudo seco. Como é que a gente vai andar? O sofrimento da gente tá grande Já a Norte Energia afirma que antes da instalação da usina, em 1969, foi o ano com o pior registro de vazão no rio Xingu, com 380 m³/s (metro cúbico por segundo), em contraste com períodos de cheia, em que a vazão chega a registrar 20 mil m³/s. Índice abaixo de níveis históricos Segundo informações do Serviço Geológico do Brasil (SGB), o rio Xingu apresentou cota abaixo do valor mínimo para esta época do ano, considerando a série histórica de monitoramento iniciada em 2016. Dados do último boletim de monitoramento apontaram que em 15 de outubro de 2024 o rio Xingu atingiu 237 cm na estação de medição Altamira, localizada no minicípio de mesmo nome. O índice estava com - 22 cm em relação à medição 6 de outubro. O menor nível da série histórica registrado até então na estação de Altamira tinha sido em 30 de novembro de 2023, quando a cota atingiu 254 cm. Rio Xingu sofre com forte estiagem no Pará. Josiel Juruna / Arquivo Pessoal Na estação Boa da Sorte, na cidade de São Félix do Xingu, a cota do rio estava com 328 cm em 15 de outubro de 2024, também abaixo dos níveis médios históricos para o período, considerando a base de dados que começou em 1976. Os dados de monitoramento das duas estações mostram que, para essa data, os níveis estavam acima dos valores de 427 cm (em Altamira) e 348 cm (em Boa Sorte) em 90% dos últimos anos, indicando que os níveis de 2024 estão muito abaixo do normal. O rio Xingu possui 9 estações de monitoramento ao longo de sua extensão. Quatro estão sob cotrole do próprio Serviço Geológico do Brasil, entre elas as réguas de medição Altamira e Boa da Sorte. Outras cinco são administradas pela Norte Energia. Estiagem No Pará, o Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), por meio da Defesa Civil Nacional, reconheceu até o momento situação de emergência por estiagem em 25 cidades do estado. Confira abaixo os nomes dos municípios: Alenquer, Aveiro, Bannach, Belterra, Belém, Curuá, Itupiranga, Jacareacanga, Juruti, Monte Alegre, Muaná, Novo Progresso, Oriximiná, Pau D' Arco, Ponta de Pedras, Porto de Moz, Prainha, Santa Cruz do Arari, Santana do Araguaia, Santarém, São Félix do Xingu, Terra Santa, Trairão, Xinguara e Óbidos. O reconhecimento da situação de emergência serve para que os municípios solicitem recursos federais para assistência humanitária, restabelecimento de serviços essenciais e reconstrução de infraestruturas e moradias. A Prefeitura de Altamira decretou no dia 18 de outubro situação de emergência em função da grave estiagem que atinge o município. O decreto pretende beneficiar com recursos mais de 18 mil pessoas que estão sendo afetadas, como pescadores, extrativistas e ribeirinhos. Pescador fala das dificuldades por conta da seca em Altamira, no Pará. Reprodução/T VLiberal A situação em Altamira tem prejudicado a navegabilidade para chegar de uma região para outra, como conta o pescador Marco Galvão. Segundo ele, o perigo maior é bater o barco em alguma pedra. Se o barco for de madeira vai quebrar e se for de voadeira vai furar. Tem que saber o caminho. Se não sabe, não chega não, porque tá seco o rio. E ainda tá secando mais Uma visita de técnicos do Ministério da Saúde na aldeia Boa Vista, em Altamira, neste mês de outubro, identificou que 53 das 155 aldeias da região foram afetadas pela estiagem, prejudicando diretamente 1,7 mil indígenas. Segundo o Ministéria da Saúde, as comunidades sofrem com a falta de água potável, desabastecimento de alimentos e dificuldades no acesso à saúde, agravadas pela redução no nível dos rios que serve de principal meio de transporte local. Causas naturais e humanas Segundo Carlos Bordalo, professor da Universidade Federal do Pará e líder do Grupo de Pesquisa Geografia das Águas da Amazônia, o fenômeno da estiagem prolongada tem se agravado, chegado mais cedo e durado mais tempo. “Tem fator de ordem natural, como o El Nino, que aquece as águas do Oceano Pacífico, provocando diminuição dos índices pluviométricos e também fator climático, como o aquecimento do Atlântico Tropical Norte, que aumenta a temperatura das águas do Oceano Atlântico”, explica. El Niño elevou as temperaturas pelo país. AP Photo/Charlie Riedel Carlos Bordalo reforça que além dos fatores naturais, as ações humanas têm agravado e piorado os problemas decorrentes da estiagem na Amazônia. Esse cenário é agravado por problemas decorrentes da ação de assoreamento dos rios, da ocupação das planícies de inundação, do aumento do consumo das águas e do desmatamento provocado pela atividade madeireira, agropecuária e garimpeira E quem mais sofre com isso, na visão do pesquisador da UFPA, é o ribeirinho. Carlos Bordalo diz que esse grupo passa a ter mais dificuldade de acesso à água, saúde e comercialização da produção. Maria de Fátima, ribeirinha da região de Altamira, diz que antigamente ela conseguia viver bem porque dava para vender o peixe que pescava. Situação que mudou com a estiagem do rio Xingu. “Acabou, o rio Xingu não é mais aquele nosso rio. Meu pai falava que nós iríamos correr de carro no rio Xingu e a situação está praticamente assim”, lembra. Rio Xingu sofre com seca no Pará. Josiel Juruna / Arquivo Pessoal Bordalo defende como solução que o governo fiscalize mais as leis ambientais e florestais, tal como a Política Nacional de Meio Ambiente e o Código Florestal Brasileiro. “Então, tem que colocar em prática o que diz o Código Florestal e a Política Nacional de Meio Ambiente, como também as legislações estaduais e municipais. Nascente e margem de rio têm que ser protegidas. Isso é ser norma”, destaca. Veja antes e depois da estiagem no rio Xingu Imagem de satélite do rio Xingu, no Pará, em setembro de 2023. Rio Xingu/Imazon Imagem de satélite do rio Xingu, no Pará, em setembro de 2024. Rio Xingu/Imazon LEIA TAMBÉM: Agência Nacional de Águas declara situação crítica de escassez hídrica no rio Tapajós, no Pará as cenas impressionantes da maior seca da história no Brasil País tem mais de mil cidades sem chuva há pelo menos três meses Brasil enfrenta a maior seca da história, diz órgão do governo federal VÍDEOS: veja todas as notícias do Pará Confira outras notícias do estado no g1 PA

FONTE: https://g1.globo.com/pa/para/noticia/2024/10/30/antes-e-depois-imagens-de-satelite-mostram-impacto-da-estiagem-extrema-no-rio-xingu.ghtml


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